"Caderno Afegão" - um mês numa terra em conflito

Resultado de um trabalho de terreno no Afeganistão, Alexandra Coelho, na altura jornalista do Público, publicou as várias partes de uma grande reportagem. Num cenário pós onze de setembro, ela vivenciou a agitação política, social e militar do verão de 2008. As tropas e instituições estrangeiras, que estavam alheadas da população, os talibans que instauravam o medo e ainda assim conseguiam estar mais próximos da população. 

Das primeiras descrições que obtemos do país é a sua militarização: militares armados, arames farpados, entre outras medidas de segurança. A par disso, o que mais salta à vista é a diferença entre a sociedade ocidental e a sociedade afegã. Essa diferença não é estabelecida pela autora - ela limita-se à descrição do que a rodeia -, mas o leitor (ocidental) tem essa perceção, pelo contraste dos costumes. Vemos um país vincadamente tradicional e patriarcal: as mulheres estão submetidas à vontade dos homens (maridos, irmãos, outros parentes).

De cidade em cidade, de hotel em hotel, entre noites mal dormidas ora pelo calor, ora pelos tiros e guerrilhas, Alexandra Coelho Lucas viajou por vários locais-chave do Afeganistão: Cabul, a capital, Herat, Kandahar, Bamiyan. Vai relatando o que vê, revelando as pessoas com quem se cruza, os diálogos que travam. Em simultâneo, vai introduzindo contexto histórico e político. Apercebemo-nos, através das conversas com afegãos, que os estrangeiros não são bem vistos, em especial os americanos e os militares. A jornalista ainda estava lá quando os talibãs atacaram um prisão, libertando 1000 reclusos.

Viajamos pelas montanhas e pelos jardins típicos da cultura afegã, pelos lagos e também por caminhos de terra seca e pelo calor tórrido. Alexandra Coelho transporta-nos para o local, tanto para a beleza do país como para o que de mais aterrorizante tem: a falta de segurança e o risco constante de perigo. Recomendo para quem quer entender a realidade conturbada afegã e os seus bastidores.

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