Aos poucos o Halloween vai
tirando o protagonismo à antiga tradição do Dia de Todos os Santos.
Então e o Pão-por-Deus?
Na manhã do dia 1 de Novembro é
tradição grupos de miúdos juntarem-se para irem ao Pão-por-Deus. Pelo menos
nas pequenas comunidades. Com uma saca na mão, vão de porta em porta em busca
de doces, frutos secos e, às vezes, dinheiro. Com o passar dos anos, a
quantidade de meninos e meninas que vai bater porta a porta à procura de doces
e frutos secos vai diminuindo. Embora a tradição esteja a diluir-se com o
Halloween, há quem diga que a celebração persistirá.
A deixa era sempre a mesma: “Pão-por-Deus” cantado em
uníssono, seguido de um tocar na campainha ou de uma pancada na porta. O
objectivo era chegar a casa com uma saca – podia chegar a duas - a transbordar
de rebuçados, chocolates, bolos, frutos secos, e até batatas-doces, se as
dessem! Percorria-se a aldeia de uma ponta à outra, e se as mães deixassem
visitávamos a seguinte também. “É um dia em que encontramos com os nossos
amigos”, diz Ana Isa, de 19 anos, relembrando a sua infância.
Ainda há o hábito de fazer o Pão-por-Deus, mas as
crianças que se aventuram sob o risco de lhes fecharem a porta na cara são cada
vez menos. Ou porque há menos crianças nas pequenas terras, ou pelo
protagonismo que a festividade estrangeira ocupa.
A chegada do Halloween
No Expresso lê-se que a globalização foi a principal
causa da importação do Halloween. As fronteiras esbatem-se e dá-se o processo de
aculturação. As montras das lojas ganham tons laranja, roxos, pretos e
cinzentos: abóboras, bruxas, fantasmas, e todas as fantasias aterrorizadoras
que a imaginação cria. As festas de máscara – de preferência assustadoras – são
cada vez mais frequentes.
Contudo,
não tem de ser encarado como algo negativo . A
chave é fazer uma articulação entre ambas as celebrações. Nas escolas, o ensino do inglês incentiva a aprendizagem da sua cultura, nomeadamente do
Halloween. Mas isto não significa que seja sobrevalorizado em relação à
celebração do Dia de Todos os Santos.
Liliana,
professora no Centro Escolar da Benedita, partilhou comigo como na sua escola as crianças se
empenham em ambas as atividades: “Na minha escola comemoramos o Pão-por-Deus e
o Halloween.” Para a tradição portuguesa confecionam as típicas broas e vão ao comércio da vila da Benedita pedir o Pão-por-Deus. Juntamente com a disciplina
de Português e Expressão Musical dão conteúdos de forma a integrarem a
comemoração. Já para os festejos de origem estrangeira realizam concursos de
máscaras, de abóboras e decoram a escola. Também aqui têm a colaboração da
disciplina de Inglês e da Biblioteca.
Pão-por-deus com simbolismo
“Lembro-me
perfeitamente de ver a minha mãe a chegar com sacos enormes de rebuçados para
depois distribuir a quem batesse à porta”, recorda Cristiano. “Era de uma
ternura extrema quando batias à porta dos vizinhos que vias todos os dias e
eles te “davam” guloseimas com um grande sorriso”. Hoje já não vai ao Pão-por-Deus
– já é considerado com demasiadas barbas para isso -, mas lamenta a perda do
espírito de dar.
Também
Ana Isa associa o Dia de Todos os Santos às actividades em família: “compravam-se doces, fazíamos
brindeiras”.
Felizmente
as broas continuam muito em voga. Ou mesmo os frutos secos, ou a batata-doce
assada. Nesta altura a minha avó assa sempre batatas-doces e faz um
Pão-por-Deus – uma espécie de cabaz – para cada um dos filhos. A tradição
mantém-se, pelo menos, entre a família. “fazíamos todos bolos em família. É um
momento familiar”, confirma Sofia.
Para não perder o que é nosso há também um esforço a nível local. Em Alcobaça, por exemplo, tem-se celebrado a Feira de São Simão, onde os frutos
secos e produtos da região são o cartaz da feira.
Não se pretende deixar de celebrar o Halloween por não ser nacional, até porque já está um tanto enraizado nos nossos dias. No entanto, não perdamos o que é nosso. Neste Dia de Todos os Santos faça o seu Pão-por-Deus.
Adapte-o. Faça bolos com os seus pais, avós, tios e amigos. Mesmo que não bata de porta em porta, aproveite o processo e os momentos que lhe proporciona.
Broas e frutos secos na Feira de S. Simão, Alcobaça |
O Pão-por-Deus da família Vicente |
O Pão-por-Deus da família Vicente |
Entrada da Feira de S. Simão |
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