O mundo deveria ser justo. Deveria. Todos os dias se morre de fome, de patologias que no "mundo civilizado" estão, no mínimo (mais) controladas, ou simplesmente por se viver no sítio errado ou por se ter nascido com a cor errada.
Mas ninguém quer saber. O povo só se interessa pela vida dos abastados - com quem andam a trair quem, quanto dinheiro ganharam a mais ou a menos, que excentricidades andam a fazer - , desejando no seu íntimo ser como eles. Querem viver à grande e à francesa, como se costuma dizer. Passamos demasiado tempo a querer ser como eles do que realmente a fazer algo para ser como eles. Todavia, não nos podemos culpabilizar somente a nós, cidadãos comuns. É verdade que a nossa inércia não contribui de maneira alguma para a mais pequena alteração, contudo é ainda aproveitada pelos que realmente têm poder nas suas mãos - entenda-se por poder dinheiro, a única coisa que, infelizmente, faz verdadeiramente mexer o mundo, seja no bom ou no mau sentido. Assim se mantém o status quo: os que estão na base da pirâmide nada fazem senão invejar e (tentar) imitar os que estão "bem" na vida - veja-se como grandes figuras da sociedade servem de inspiração a modas -; enquanto que os que estão no topo têm em seu favor as distrações que eles mesmos representam, agindo discreta e subtilmente em prol da manutenção da hierarquia.
O mundo deveria ser justo. Deveria. Ao invés, temos um mundo onde os nossos governantes agem em inconformidade com a lei, entre esquemas de lavagem de dinheiro e/ou subornos e cunhas (cunhas são dinheiro, dinheiro são cunhas). Mais facilmente se consegue um alto cargo conhecendo alguém que trabalha no ramo, do que pelas suas próprias competências. (Onde está a ideia de meritocracia?)
O próprio sistema está enviesado (se é que alguma vez esteve "direito"). Os próprios critérios de seleção para ajudas financeiras - bolsas de estudo, por exemplo - olham somente à quantia em euros, não tendo em conta fatores externos que possam influenciar a distribuição do dinheiro dentro do agregado familiar. (Onde está a ideia de Estado protetor que salvaguarda as necessidades da sua população?)
Hoje, mais que nunca, estudar é mais um dever que um do que direito. Há uma certa pressão social para tal e, ainda que seja um bem nas sociedades democráticas, não é de todo gratuito. Bem pelo contrário. O que acontece se uma família não conseguir suportar os custos do prosseguimento dos estudos? E se o estudante em causa tiver dificuldades em arranjar emprego simultâneo ao estudo e/ou se não conseguir conciliar as duas atividades? Terá de ficar dependente do Estado para conseguir todos os materiais e acessos disponíveis para o seu melhor desempenho académico? E se o Estado não lhe atribuir qualquer tipo de ajuda? O seu direito fica prejudicado, o estudante (e a família) fica sempre prejudicado.
Ainda que grande parte dos "pequenos peixes" estejam preocupados e interessados na vida dos "grandes tubarões" - são o "ópio do povo" -, é preciso ter em conta que ainda mais alarmante é o facto de a sociedade ser um grande aquário onde os grandes comem os pequenos por um motivo apenas: dinheiro. Este é o grande motor da sociedade.

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