Vencedor do Prémio Nobel da Literatura de 2017: Kazuo Ishiguro. "Nunca me deixes" explora um outro lado da condição humana e também dos avanços da tecnologia. A fragilidade humana é exposta de forma comovente e desconcertante através da visão de Kathy, aparentemente uma rapariga como qualquer outra.
É contado o percurso de três amigos - Kathy, Ruth e Tommy -, como sempre se conheceram e como se relacionaram na escola especial Hailsham, para alunos especiais. Educados para serem dadores - pormenor que só é revelado no decorrer da narrativa, não querendo dar spoiler-, vivem a sua vida cientes de que o seu destino está determinado, apesar de se esforçarem por viver epicuristicamente.
A evocação à sua infância, ao mundo protegido do exterior da escola, é quase constante. A noção de passado perfeito e inocente que estava longe de revelar o seu destino. Não se sabe ao certo o porquê de viverem numa bolha isolada - não têm pais -,o porquê de a escola incentivar tanto a criatividade e a arte e de serem submitidos regularmente a exames físicos.
Quando deixam Hailsham, os amigos apercebem-se que tiveram a sua infância teve mais privilégios do que a dos seus semelhantes. Mas é também nessa altura que o seu destino se aproxima cada vez mais. Quem os rodeia aos poucos vai desempenhar a sua função, e apodera-se a inquietação sobre o futuro, a inevitabilidade do destino e da morte, e a sede de viver.
Esta obra expôs com outros olhos a condição humana, expondo uma fragilidade de uma vertente do avanço tecnológico. Embora esse não seja o enfoque principal, esse avanço é condição necessária para toda a introspeção a que a obra obriga, tanto dos personagens, como do próprio leitor. Numa escrita simples, Ishiguro toca na ferida com o seu mundo um tanto para o perturbador. O livro serviu de base para o filme com o mesmo título, cujo trailer se encontra em baixo.
Páginas: 330
"Disseste que a arte revela o que somos por dentro. O nosso interior. Foi isso que disseste, não foi? Bom, não estás assim tão longe da verdade. Ficávamos com os vossos trabalhos porque estávamos convencidas de que revelariam a vossa alma. Ou, mais precisamente, para provar que vocês tinham alma."
"Não consigo deixar de pensar num rio, com a água a correr muito depressa. E há duas pessoas na água, a tentarem agarrar-se uma à outra com muita força, mas por fim têm de desistir. A corrente é demasiado forte. Têm de se largar uma à outra, têm de se separar. É isso que eu vejo quando penso em nós os dois. É uma pena, Kath, porque eu amei-te a minha vida inteira, e tu a mim. Mas não podemos ficar juntos para sempre."
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