Amante de Lady Chatterley, uma ode à libertação sexual


Considerado um romance erótico e um clássico, O Amante de Lady Chatterley foi banido quando foi publicado em 1928, por ameaçar a moral pública com cenas sexuais mais explícitas. Para a época, tais cenas eram escandalosas, devido à tradição puritana vitoriana. Especialmente porque o livro é uma ode à libertação sexual, à intimidade e ao erotismo. D. H. Lawrence explora conceitos como as relações humanas e os seus envolventes, como a intimidade, o ato físico, o amor platónico, ao mesmo tempo que critica a Inglaterra industrial e decandente, que mina as relações humanas. O livro só foi libertado da banição em 1960.


Lady Chatterley, casada com Clifford, muda-se para uma zona industrial nos anos pós primeira Guerra. O marido, ferido na guerra, ficara imobilizado da cintura para baixo e passou a depender da esposa. Enquanto o companheiro se refugia no mundo literário, completamente alheio à mulher. A sua relação era caracterizada pela distância física; Clifford valorizava a comunhão intelectual, as conversas e o companheirismo. De início, Chatterley habitua-se à ideia, contudo, a falta de contacto físico começa por degradar a sua saúde. Era esperado que, uma vez que o marido não podia ter relações, ela abraçasse a condição de "semi-virgem". É explorada a condição da mulher, aquilo que é esperado da mesma, e em simultâneo a libertação dessa condição. D. H. Lawrence expõe vários conceitos de amor: o amor meramente físico, o amor platónico - alguns homens retratados apenas queriam falar e estar com a mulher de quem gostavam -, e o amor ideal ou verdadeiro, retratado por Connie e Mellors.
A angústia de Connie Chatterley começa a reverter-se quando se envolve com Mellors, couteiro da família. Aos poucos vai evoluindo a intimidade entre eles. A forma como o autor retrata a sua relação recai na descoberta de um do outro, seja do próprio corpo seja do seu passado até ao momento em que estão juntos. São momentos mais eróticos e íntimos do que propriamente sexuais, dado que contribuem acima de tudo para a ligação entre os dois, e não tanto para o sexo por si só. Paralelamente, Clifford, o marido de Connie, vai ficando cada vez mais emergido nos seu negócio das minas e no poder que daí vai adquirindo e admirando.
As minas de Wragby Hall, onde vivem, e o ambiente envolvente, incomodam a Lady Chatterley, e ela percebe como as mesmas degradam com quem nelas trabalha. A crítica social impõe-se perante o interesse da população no dinheiro e em querer mostrar-se, e também na separação entre classes sociais e na decadência da Inglaterra industrial, danificada após a Guerra.
Existem várias edições publicadas deste livro, e facilmente se encontram livros usados, que foi o meu caso. Recomendo especialmente pela caracterização que é feita da sociedade inglesa da época.

Comentários